Subitamente você
se vê sem seu parceiro de vida.
O mundo parece não fazer mais
sentido, a dor é intensa. Você
sente o mundo estranho, pensa e faz
coisas pouco comuns, seus sentimentos
estão conturbados. A expressão
viúva a incomoda e magoa, não
é com você. As pessoas
parecem não entender muito bem
o que você está vivendo.
Talvez também pense que não
pode deixar as pessoas perceberem seus
verdadeiros sentimentos. Você
imagina que não vai suportar
ou que está ficando louca.
Tudo isso é
normal, você está vivendo
uma das situações mais
estressantes da vida: tornar-se viúva
é um processo profundamente sofrido
que ocupa todas suas energias.
Algumas queixas são
frequentes entre as mulheres que enfrentam
essa situação e devem
ser compreendidas como resultado do
sofrimento causado pela perda do marido,
somado à insegurança e
às exigências que a acompanham.
É o início de um lento
processo de mudança que leva
a mulher a se tornar outra coisa que
não mais a esposa.
Pensar no marido quase
o tempo todo, ver-se desinteressada
pelo que antes era habitual; às
vezes até seguir a rotina parece
ser estafante e inútil. Sente-se
inquieta, procura alguma atividade que
a distraia, mas não consegue
se concentrar em nenhuma atividade.
Perder ou esquecer coisas com freqüência,
não se lembrar de datas, sentir-se
fora do rumo. Às vezes existem
queixas de dores, alteração
do sono, descuido ou excesso na alimentação,
Sentir uma saudade profunda e, por breves
momentos, imaginá-lo de volta
em sua vida. Aquele som na porta não
é ele chegando? Algumas mulheres
chegam a experimentar a presença
física ou espiritual dos maridos
nesse período, outras sonham
com eles e sentem-se confortadas por
isso. Também é normal
sentir raiva: do destino, das pessoas,
dele, de você mesma, de tudo que
está acontecendo.
Filhos ficam sendo
uma responsabilidade só da mãe;
se pequenos, até distraem mas
também exigem muita atenção.
Além disso há a preocupação
sobre o que dizer, como fazer para que
os filhos não sofram tanto quanto
a mãe. Partilhar a saudade com
eles e falar do pai é importante
para que saibam que não foi esquecido
e que não são só
elas que sentem falta. É como
manter o lugar do pai em seus corações,
mesmo que ele não esteja mais
presente fisicamente. Se os filhos são
mais velhos, estão cuidando da
própria vida e parecem não
poder se ocupar tanto da mãe;
sua casa fica ainda mais vazia... Quando
estão presentes parecem esperar
mais da mãe do que antes; eles
também estão de luto.
Não sabem se devem falar do pai
ou se é bom ou não quando
a mãe chora. Muitas vezes entendemos
que chorar é uma coisa que não
deve acontecer, mesmo se temos boas
razões para isso. Chorar é
bom pois, mesmo que seja sinal de sofrimento,
é também uma forma de
se aliviar, de lembrar e de curar a
dor. Divida seus sentimentos com eles,
ouça-os e fale de você
mesma.
Muitas mulheres relatam
um desencontro entre elas e as pessoas
que a cercam. Os amigos são um
conforto mas também trazem dificuldades.
São diferentes opiniões
e expectativas que fazem a viúva
sentir-se estranha; amigos são
importantes, mas suas sugestões
muitas vezes não servem, os consolos
são inúteis ou a irritam...
Alguns não falam e não
a deixam falar do marido, achando que
isso vai trazer sofrimento; outros não
aguentam ver o choro, não sabem
o que fazer. Algumas pessoas até
se afastam da viúva pela confusão
sentimentos que seu luto provoca e também
pelo medo de se imaginar no seu lugar.
A viúva parece ser a única
pessoa avulsa no mundo. Tudo parece
muito mais difícil.
Outras pessoas cobram
da viúva uma recuperação
que ela não sente, mesmo passado
algum tempo da morte do marido. A vida
continua, mas para a viúva a
saudade ainda é muito forte,
existem as dificuldades financeiras,
as novas experiências, desafios
de toda espécie; toda sua vida
mudou. Tudo parece ser muito recente,
é preciso mais tempo para ajustar-se.
A viuvez obriga a enfrentar uma transição
em que a principal tarefa é construir
uma outra identidade: a de mulher só.
Não é nem melhor nem pior,
é só outra identidade,
nova, que exige tempo para se desenvolver.